quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sarah Miller - A vingadora


Estava com uma insônia terrível. Decidiu então ir tomar um pouco d’água. Desceu as escadas para ir à cozinha. Estranho, estava tudo muito quieto; estranhamente quieto. Achara que não havia ninguém na casa, embora quando fora dormir não estava sozinha... Mesmo assim fora tomar sua água, logo depois deu uma rodeada na casa. Estava sozinha; realmente sozinha... A não ser pela companhia de suas tristes lembranças... Lembranças que talvez convivessem com ela o tempo todo, mas talvez estivessem somente adormecidas em algum canto de sua memória.

Sarah já passava um bom tempo sentada naquela cozinha relembrando todo o seu passado que nem percebeu o que ocorria a sua volta... As horas foram passando cada vez mais depressa sem ela perceber. Ela se desligou do mundo de tal forma, que não escutou a porta bater em sinal de que alguém havia entrado em sua casa. Adormeceu. Ela simplesmente adormeceu; fora sedada.

Quando acordou, estava em um lugar estranho. Com pessoas estranhas. Estava presa, dependurada por uma corda em algum cano que passava pelo teto. Um rosto coberto por um capuz preto foi chegando a passos silenciosos cada vez mais perto dela. Ela estava assustada, completamente assustada, não tinha a menor ideia de onde estava, e quem eram aquelas pessoas? Ela não fazia ideia, tentou soltar-se das cordas que amarravam seus pulsos, mas nada... O homem oculto pelo capuz preto riu e chegou ainda mais perto, de modo que ela podia sentir sua respiração.

- Por que eu estou aqui? Que lugar é este? - Ela não parava de gritar, mas não obtinha nenhuma resposta.
- Acalme-se moça - disse uma voz um tanto quanto distante, mas audível -, se continuar desse jeito teremos que sedá-la novamente.
- Então, que diabos vocês querem?
- Calma, nós queremos nos divertir um pouquinho... Não é Gustavo?
- Se divertir? Como assim? O que quer dizer com isso? - O pânico tomava conta dela cada vez mais.
- Você verá - Disse Gustavo um tanto entusiasmado.
- E você está com a câmera pronta Leonardo? – Perguntou a voz que parecia comandar o grupo.
- É claro Vitor! Podemos começar – Respondeu-lhe Leonardo.

Então ela viu que estava descendo, bem devagar, mas estava descendo. Um dos homens a conduziu até uma cadeira, da onde ela pode ver que tinham seis pessoas no local, todos com os rostos cobertos. Foi então que ela sentiu uma dor imensa no rosto e percebeu que lhe deram um tapa, ela começou a procurar por uma saída desesperada e sentiu mais uma dor na barriga, um soco, e logo em seguidas mais tapas e socos. Ela sentiu escorregar da cadeira e cair no chão com um baque surdo, e então um chute, e outro, e mais um... Ela começou a sentir o sangue escorrer por todos os lados, os olhos quase fechando, ela lutava para recolher forças, mas não conseguia...

- Por quê? – Sua voz trêmula quase não era audível...
- Para pôr na internet lindeza. Ou vai me dizer que nunca ouviu que espancamentos rendem milhões de acessos?
- Vocês não sairão bem dessa...
- Acredite neném. Nós vamos sim.

Ao que lhe pareceu uma eternidade, agora estava sozinha, deixaram-na lá, largada no chão, apodrecendo. Ela tentou se levantar, apesar de sentir seus ossos quebrados, uma dor que parecia não ter fim... Ficou assustada ao ver todo aquele sangue pelo chão, mas reuniu forças que jamais imaginou ter... Sentou-se para poder colocar as ideias no lugar, a cabeça não parava de girar, mas concentrou-se em achar algum lugar onde pudesse se limpar. Achou um banheiro imundo, mas havia água, e era disso que ela precisava. Limpou-se e tratou de procurar algo para comer, necessitava de energias para poder vingar-se... Não havia nada ali, nada que ela pudesse comer. Resolveu procurar pela saída o mais rápido possível, pois temia que aquelas pessoas horríveis voltassem.

Tentou lembrar-se por onde eles haviam saído, mas nada. A não ser uma luz forte vinda do lado de fora. Era a saída. Ela rodeou o local, encontrou sua saída, mas talvez não estivesse tão acessível como ela queria. Precisaria de alguma estratégia pra sair dali, já que havia alguns guardas do lado de fora... Foi então que ela percebeu a existência de uma janela, um pouco estreita, mas era sua única escolha. Quando ela estava prestes a pular pela janela, escutou alguém dizer:

- Vitor, como está a edição do vídeo?
- Ah Gabriel, está indo bem, mas vamos precisar de mais algumas cenas... - Respondeu a voz que pareceu pertencer a Vitor.
- Então teremos de torturar mais a garota? – Disse uma outra voz
- É, vamos sim Pedro.

Ela se apavorou, tentando passar logo pela janela, quando escutou uma voz feminina:

- Então vamos fazer isso logo, não aguento mais essa menina!
- Calma ai, Julia Maria! Temos de ter paciência, para o vídeo ficar perfeito – Respondeu a voz de Vitor.

Quando estava pulando a janela, sentiu que sua blusa ficara presa. Começou a puxá-la desesperadamente, mas caiu do outro lado, fazendo barulho, ao que parece ninguém percebeu. Ela conseguiu fugir pelas árvores que rodeavam o local. Quando a gangue percebeu que a garota havia fugido foram atrás, e procuraram por todos os lados, mas era tarde de mais, ela já estava longe.

Passaram-se meses, mas nada da garota. A única coisa que sabiam é que ela provavelmente estava morta.
Cada um continuou com a sua vida normalmente, até que um de seus amigos desapareceu misteriosamente e no dia seguinte apareceu esfaqueado, em um rio, boiando. O corpo fora identificado como sendo o de Julia Maria. Todos ficaram horrorizados, querendo entender quem havia feito aquilo, mas não chegaram a ninguém.

Sarah não estava satisfeita somente com a morte de Julia Maria, ela queria se vingar de todos, e o próximo de sua lista seria Leonardo. Ela foi até a casa deste enquanto dormia, amarrou-o e jogou em cima vários tipos de bichos. Quando ele acordou exasperado com toda aquela dor, tentou se livrar de todos aqueles vermes que comiam sua pele, mas foi em vão. Depois de observar Leonardo, Sarah foi até onde Pedro trabalhava, e ficou escondida por lá... Quando a loja fechou, ela deu-lhe uma martelada fazendo-o desmaiar. Quando acordou, estava amarrado a uma cadeira e a única coisa que pôde sentir foram várias pancadas em várias partes de seu corpo. Ele tentou fugir, mas não conseguiu. Continuou apanhando e apanhando.  Gabriel por sua vez, fora morto de uma maneira um tanto quanto original. Fora preso num tronco de uma árvore. Teve seus olhos arrancados por pássaros e sua cabeça degolada. Já Gustavo fora esquartejado após ter sido mordido por guaxinins. Ela havia se livrado de todos, menos um. E sabia muito bem onde encontrá-lo.

- Então finalmente nos reencontramos, Vitor! – disse ela com a face um tanto risonha.



Amanda Dias e Isadora Nascimento

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