quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

03:00 da manhã

As palavras ditas por ele continuam revirando-se no meu estômago, sem conseguir digeri-las. O silêncio prevalecia naquela manhã fria e gélida de novembro, deixando somente um vácuo terrível no ar. Ele poderia me dizer que era qualquer coisa, mas um anjo! Por mais que eu compreendesse sua situação, não conseguia entender nada. "Como ele veio parar aqui?" "Porque eu?" As perguntas continuavam martelando na minha cabeça, e por mais que eu tentasse, era algo quase impossível de se entender.

- Vou embora, não consigo mais ficar aqui apenas esperando por uma se quer palavra sua. Isto é tortuoso, preciso ir.

Olhei com dificuldade em seus olhos cheios de lágrimas, olhos cansados, olhos de quem passou a madrugada inteira tentando achar um modo de como contar-me tudo aquilo. As palavras mal saíam de minha boca, mal conseguia pensar em palavras para respondê-lo, eu estava cansada demais tentando entender tudo aquilo. Com dificuldade, quase sem conseguir pronunciar uma palavra se quer, olhei em seus olhos, os mais sinceros possíveis, e disse, às lágrimas que estavam cansadas de cair:

- Por favor, não vá. Não me deixe aqui, eu preciso de você. Estou apenas tentando colocar as coisas no lugar, é muita coisa pra mim. Muita coisa de repente.

Tentei impedi-lo de cometer tal feito, mas foi tudo em vão. Palavras que mal conseguia pronunciar não adiantaram de nada, ele simplesmente foi embora. Mal conseguia olhá-lo ir.

Passei a madrugada inteira tentando pensar em algo a fazer. Como eu podia me apaixonar por um anjo?! Não conseguia parar de pensar nas coisas que me foram ditas. Estava deitada na cama, aos prantos, tentando simplesmente organizar coisas que no momento pareciam-me impossíveis de acontecerem. Foi assim que adormeci, sem nem se quer perceber. Adormeci pensando nele, como de costume, mas neste caso, adormeci um pouco mais confusa que de costume. Das outras vezes, eu apenas sentia algo indecifrável por ele, uma atração inexplicável. Descobri o que era, uma atração de outras vidas. Nós nos apaixonamos a milenios atrás. Somos dois condenados a nos apaixonar sempre na mesma época, sempre da mesma maneira, até agora. Até agora sempre nos conhecíamos no mesmo lugar, e nos apaixonávamos no mesmo lugar, pela mesma maneira. Mas desta vez, por algum motivo, não sabemos pelo qual, foi tudo diferente. Conhecemos-nos na escola, nos apaixonamos por causa de um trabalho em dupla que deveríamos fazer, não por causa de uma festa, como das outras vezes.

"Tu, tu! Tu, tu! Tu, tu!"

- Ah, não! Já está na hora de ir pra escola! Puuf'

Levantei correndo, estava atrasada. Sai correndo, ao sair na porta para ir pra escola, ele. Sim, Gabriel estava lá. Como se estivesse lá desde cedo, somente me esperando. Ignorei-o. Sai correndo e fui para a escola, cheguei bufando.

Ana, minha melhor amiga, assim que me viu, saiu correndo. Já veio logo me enchendo de perguntas, não dando nem tempo para respirar. Queria saber de tudo. Sim, ela ficou sabendo que estive com Gabriel noite passada. Já veio logo indagando o porquê de ser sempre a última, a saber, dos acontecimentos. Tentei ignorá-la, embora difícil fosse, pois Ana era muito persuasiva, conseguia sempre o que queria. Então, para tentar despistá-la por um tempo, entrei na sala de aula e disse a ela que na saída lhe diria tudo, embora mentira fosse, pois apenas inventaria uma mentira para acalmá-la um pouco. Queria mais do que tudo contar tudo a ela, mas era um assunto delicado demais para contá-la assim, ainda mais naquele momento, ela deveria esperar um pouco mais.

Nas aulas, não conseguia me concentrar nenhum pouco, embora meu corpo estivesse ali, minha mente estava em Gabriel, e por tal motivo não via a hora de acabar a aula para ir falar com ele o mais rápido possível. Tinha um assunto urgente para contar.

Assim que as aulas terminaram, sai correndo em direção à sua casa, jamais corri tanto em minha vida, apenas ouvia Ana gritando atrás de mim:

- RAFAA CUIDADOO! O ÔNIBUS!
Tentei escutá-la, mas era tarde demais. Morri atropelada por um ônibus. Morri sem conseguir dizer a Gabriel tudo que queria sem poder descobrir um pouco mais sobre nosso passado.

Ao meu lado, lamentando que poderia ter impedido tudo aquilo, estava Ana, mas principalmente, Gabriel. Que apareceu tão rapidamente quanto desapareceu. Jamais o veria novamente, mas aquela imagem tão angelical de seus olhos azuis, cabelos tão loiros que quase pareciam brilhar ficariam eternamente em minha memória, e por um momento, eu quase fiquei feliz por ter morrido de tal forma, de poder ter ao menos uma última lembrança maravilhosa de meu amor. Sim, embora quase impossível fosse, morri feliz, pois pude morrer nos braços de meu querido amado, que mesmo que não estivesse ali, sabia, de alguma forma, não sei como, que estava ao meu lado, como sempre esteve.

— Amanda Dias

Nenhum comentário:

Postar um comentário