Em uma
mesinha, num quarto escuro e vazio, escrevia às lágrimas uma jovem:
“Sabe mãe, eu nunca fui muito
boa em despedidas, portanto resolvi despedir-me por uma carta. Talvez até para
relembrar os tempos em que nós escrevíamos cartas, mandávamos telegramas, etc.
Naquela época não havia e-mails, assim como também as pessoas respeitavam umas
as outras. Mas vou direto ao ponto: o motivo dessa carta de despedida.
A
minha vida toda eu sempre a obedeci sem discutir, mas fora isso nós sempre
fomos muito amigas, companheiras e confidentes. Tudo o que acontecia em minha
vida eu sempre lhe contava. Exceto por uma coisa: minha vida emocional. Que por
esta carta meio melancólica já dá para perceber que não era das melhores, não é
mesmo?!
Você provavelmente
não sabe, mas eu tenho me cortado, não com freqüência, mas tenho os meus
ápices. Oh, minha linda! Minha florzinha, eu nunca quis machucar-te. Embora eu
seja a filha, nós duas sabemos muito bem que eu é que sempre cuidei de você...
Sabe mãe, eu sempre a idolatrei muito. Aliás, quando eu era menor, você era
como um ídolo para mim... Mas aí eu tive que crescer, e descobrir que as coisas
não são tão simples quanto parecem. Que aqueles adultos bonzinhos da sua
infância não existem mais... Descobrir que um conto de fadas não existe foi
algo muito doloroso para mim, sabe? Descobrir que meu príncipe encantado fugiu
com a Cinderela e que não vai voltar, naquela época foi como se meu mundo
tivesse acabado. Pobre criança, mal sabia eu que isso era só o começo de uma
longa jornada muito mais dolorosa do que eu jamais pudera imaginar, nem em meu
pior pesadelo.
Quando
menor, lembra-se que eu sempre bagunçava sua cozinha inteirinha? Pois é, você
nem ligava. Anos depois, quando eu inventava de criar minhas casinhas da Barbie
no tapete da sala, você mal reclamava, dizia que eu deveria aproveitar a melhor
época da minha vida, aproveitar a minha infância, enquanto não tinha nenhuma
preocupação na cabeça... Não sei o porquê, mas eu sempre quis crescer, embora
vocês, adultos, sempre dissessem que era melhor continuar criança. Tola menina,
não tinha ideia do quanto iria sofrer mais a frente.
Eu
sempre achei tão lindinha aquela música, qual é mesmo a letra? “Menininha, não
chore não... Fique pequenininha, a três palmos do chão...” É essa mesmo a
letra? Nunca decorei, embora você, fosse fanática por esta música, sabia de cor
e salteado.
Partindo
para o fim das lamentações, já que nesta hora provavelmente você já está se
debulhando em lágrimas, vou-me despedindo... Saiba que eu sempre te amei e
sempre te amarei, não importa a distancia... Fique com a minha caixinha de
música como lembrança, e coloque sempre a bailarina para dançar, assim você
sempre se lembrará de mim...
Sabe,
certa vez ouvi uma citação que dizia o seguinte: “A morte é somente o começo da
vida para uma mente suicida.”
Eu
sinto muito mãe, mas eu preciso viver.”
Ao
parar de escrever, apoiou a cabeça; havia partido.
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