quarta-feira, 28 de março de 2012

“Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma aventura seguinte”
— Albus Dumbledore

O poema da Morte



A morte bateu em minha porta. Na mão um cigarro portava, na outra um pequeno papel amarelado. Começou a desenrolar o papel e leu em voz branda o conteúdo. No ato da leitura eu me arrepiava diante dela. O vento era voraz, me arranca suspiros.


Ela não me olhava nos olhos, estava sobre um capuz cinzento e demasiado velho, mas a pele que não estava coberta era tão pálida quando a neve. Seus olhos, que eu mal podia ver, eram azuis, como oceano onde navegam os piratas, como o céu coberto por tempestades, como os meus olhos: ela me refletia.


Quando ela terminou eu não sei exatamente, devo ter ficado alguns minutos viajando em pensamentos. Ela me tocou com o cigarro, mas não me machucou, senti o ardor da queimadura, mas foi diferente, como quando o gelo queima, e não o fogo. Ela possuía uma voz rouca. Perguntou se eu havia entendido o que ela acabara de ler, respondi que mal pude ouvir polo zumbido do vento, mas na verdade eu estava navegando nos olhos dela, nos olhos da Morte. Convidei para que adentrasse a (minha) casa.


Agora só se ouvia um pequeno zumbido de quando o vento batia no pé de acerola. Sentamos no sofá carmim, ela agora se despira do grande capuz, e me olhava intensamente. Ela era morena, digo, seus cabelos eram escuros e ralos. Ela era encantadora, mas a todo instante parecia que sugava minha alma.


Ela tornou a recitar o escrito do papel, ouvi atento, mas a interrompi, coloquei minhas mãos sujas de terra em sua boca carnuda, pedi que não lesse mais nada, puxei-a para mais perto de mim e a beijei. Foi gélido, frio, intenso. Em segundos algo mais gelado que o beijo adentrou o meu peito e toda minha alegria se esvaiu. Cai no chão de madeira, não foi doloroso.


Meus olhos foram se fechando pesados, só pude ouvir ela dizer “Por que fez isso poeta inútil ?”, e minha vida se findou.


A morte pode parecer tenebrosa, mas era branda. Era calmo e branco, muito claro. Era como dormir, só que sua mente ainda viaja. Era como flutuar. E há quem pense que morri infeliz, mas a última frase da morte me fez feliz, eu morri, eu era poeta.



Alexandre Santos
“A poesia existe porque a vida não basta.”
— Ferreira Gullar
“(…) Eu só chorei porque a saudade escorreu dos olhos vazios e banhou a minha solidão.”
— Cinzentos, trecho.
“A minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e, foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão.”
— Cecília Meireles
“Tá chovendo dentro dela,
Quase que um temporal.”

— Desconhecido
"Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrindo, chorariam comigo.”
— Kurt Cobain.
“Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim.”
— Tati Bernardi
“O suicídio não é querer morrer, é querer desaparecer.”
 — Georges Perros
“Eu prefiro a noite, o escurinho. As luzes me roubam a atenção. Por isso só consigo escrever com as luzes apagadas. Chorar também. Só consigo me encontrar comigo, seja para construir-me ou destruir-me, no escuro. Ele me acolhe.”
— Yasmin Diniz
“Estava tudo bem.
Mas também era terrível.”
— A Menina que Roubava Livros
“Eu estava a ponto de sentar numa daquelas calçadas tortas. Enterrar a cabeça nas mãos e chorar e chorar.”
— Caio Fernando Abreu.
“Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim.”
—Tati Bernardi
“Difícil sou eu, que impede todos de me entender. Até eu mesmo.”
— Vicejar

“Os pequenos detalhes são sempre os mais importantes.”
— Sherlock Holmes
“— Entao não o ama mais?
— Amo. Só guardei isso num cofre. E tranquei. E esqueci a senha. Não porque quis. Foi preciso.”

     — Caio Fernardo Abreu 


“Na artéria do meu silêncio, deixo morrer sem adeus, aquela palavra que livraria as andorinhas do meu coração, abrindo a porta dessa gaiola e permitindo que as asas formadas por lágrimas, consigam bater para tão, tão longe de mim. Mas permaneço como uma estátua de sal, sem mover um soluçar de canto, um recitar de amor, petrificada na incapacidade dos meus olhos de saborearem o clarão da vida. É tanto sol, tanta luz, que minha escuridão se sente ameaçada, a beira de uma batalha milenar. São raios de sol que não respeitam o meu limite negro, minha presença escura, meu cerrar de lábios para impedir a blasfêmia de declarar amores impossíveis. Eu clamo com veemência ao céu que me poupe dessa luz que transforma todas as minhas lágrimas em cinzas e faz o vento carregar, pois eu anseio por uma solidão silenciosa na escuridão dos meus abismos incontáveis, dentro de mim. Tenho me permitido ser apenas escuridão, afinal, nessa ausência de luz, esbarro com as minhas tristezas e posso tocá-las com as pontas dos meus dedos falhos, cansados de usar cores vivas em minhas mortes em obra de arte. Eu tenho escolhido a noite para contar, em minha intimidade, os batimentos sortidos de amor que meu coração ainda ousa evidenciar. Tudo se torna uma brincadeira de ciranda até o sol me achar.”

Faah Bastos
“- As borboletas não morrem, meu amor. Elas renascem no equinócio dos seus olhos.”

— Trecho do romance “As Borboletas também Choram”
  Faah Bastos
“Você

me

faz

recitar

poesias

em

silêncio.”


Faah Bastos

segunda-feira, 5 de março de 2012

“Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos.”
— Caio Fernando Abreu
“Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrindo, chorariam comigo.”
— Kurt Cobain.

“Tempo, tempo, tempo, tempo.
És um dos deuses mais lindos.”
— Maria Gadu.
“Eu sofro de mimfobia, tenho medo de mim mesmo. Mas me enfrento todo dia.”
— Millôr Fernandes
“Ela não era perfeita. Ele não era bom.”

— Ausência
“O jardim floriu,
não por ser primavera,
e sim,
pela volta do meu - amor - Jardineiro.”

— Layla Lopes
“Estava tudo bem.
Mas também era terrível.”

— A Menina que Roubava Livros
“You say childhood, I say Harry Potter.
You say depression, I say, “The dementors must be near. Here, have some chocolate.”
You say Hitler, I say Voldemort.
You say school, I say Hogwarts.
You say, “I’m going to kill you!” I yell, “Avada Kedavra!”
You say, “Long live the queen.” I say, “Long live J.K. Rowling.”
You say bitch, I say, “Butt Trumpet.”
You say, “My dog ate my homework.” I say, “Those bloody Nargles stole my homework again!”
You say hot, I say supermegafoxyawesomehot.
You say epic, I say Harry Potter.
You say, “I’m telling!” I say, “Wait until my father hears about this.”
You say coke, I say butterbeer.
You say Kristen Stewart, I say Emma Watson.
You say, “Ridiculous.” I say, “Riddikulus.”
You say Edward Cullen, I say Cedric Diggory.
You say Bella, I say Bellatrix.
You say prison, I say Azkaban.
You say socks; I cry and exclaim, “Dobby!”
You say OMG! I say “Merlin’s beard!”
You say superpowers, I say magic.
You say car, I say broom/Apparation/Floo powder.
You say anything HP related, I drop what I’m doing and join the conversation.
You say rock/pop/country/rap, I say Wizard Rock.
You say love, I say “Always.”
You say death; I say the next great adventure.
You say, “Come here.” I say, “Accio.”
You say contacts, I say glasses.
You say ginger, I say Weasley.
You say, “I found it.” I say, “I’m a Hufflepuff. Of course I filching found it.”
You say toad, I say Umbridge.
You say rich, I say Draco Malfoy.
You say, “Oh, shit.” I say, “Bloody Hell.”
You say know it all, I say Hermione Granger.
You say tattoo, I say lightning scar.
You say gun, I say wand.
You say seriously, I say siriusly.
You say Jacob Black, I say Remus Lupin.
You say Fred, I break down in tears.
You say twins, I say fred and george
You say Taylor Lautner, I say Tom Felton.
You say “Twilight is better than Harry Potter.” I say “You must not tell lies.”
You say Hogwarts, I say home.
You say life, I say Harry Potter ♥”

— Luna ♥
“A poesia existe porque a vida não basta.”
— Ferreira Gullar
“A minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e, foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão.”

— Cecília Meireles
“Tá chovendo dentro dela,
Quase que um temporal.”

— Cordialmente
“Ah, se o chuveiro lavasse a alma.”
“Ah, se!” (Desconhecido)
“Eu sou como um rio que ninguém quer navegar, moço. Todos olham de longe, acampam em volta por uns dias, mas ninguém entra, ninguém olha o que há através da superfície. Ninguém quer saber o que a minha água esconde.”
— Camila Costa.
“Eu prefiro a noite, o escurinho. As luzes me roubam a atenção. Por isso só consigo escrever com as luzes apagadas. Chorar também. Só consigo me encontrar comigo, seja para construir-me ou destruir-me, no escuro. Ele me acolhe.”
— Yasmin Diniz

A garota do coração de vidro

Era mais um dia como todos os outros, parecia ser igual, porém era um dia diferente como sempre. O Circo De L’Amour chegava à cidade. Pequena de poucos habitantes, era possível escutar o ruflar dos tambores anunciando o espetáculo que estava por acontecer. As crianças corriam atrás da carruagem, como se o vento que a sucedesse, deixasse pelo ar a felicidade que por ali não se via à um bom tempo…

E lá estava a garota, sentada à porta com os cotovelos apoiados nos joelhos, e sobre as mãos o queixo, repousando enquanto vislumbrava atenta, cada movimento do chegar daquele povo nômade, que ao longe se aproximava. Trazendo consigo o que aquele lugar largado, árido e perdido tanto esperava… Sorrisos. Esses estranhos eram bem vindos, pois trariam o que ela desejava. Ter em seu rosto a doce expressão de uma bailarina, que guardava no peito o sorriso inundado de melodias dramáticas, sorrisos que ela nunca demonstrava.

Corria para o quarto e enclausurava-se com suas pinturas sujas de lama, da ultima vez que jogara tudo pela janela quando o circo foi embora. Quando não se conteve e fez chover. E essa era a hora, o que tinha restringido para si por tanto tempo, deveria ser entregue. Estava certa de que aquele bom moço de barba, smoking velho e uma cartola esfarrapada escondendo parte dos olhos, porém sobressaindo o atrativo mistério de seus lábios sem fala, saberia cuidar do que iria ela lhe oferecer. Como suvenir, por aparecerem periodicamente não permitindo a alegria dela por completo se findar.

Esperava sempre alguns minutos após a montagem da tenda. E infiltrava-se por lá. Quando menos percebiam, estava ela escondida por baixo das arquibancadas, tendo seus olhos espremidos por entre os pés da platéia. Só assim, conseguia ver de perto tudo que se passava, sem que ninguém pudesse nota-la, ou então convida-la para a apresentação. Tinha medo de estar no picadeiro com a cara limpa. Acreditava piamente que um dos motivos pelo qual o palhaço tanto sorria, é que não podiam ver por trás o verdadeiro homem esmorecido que se escondia sob aquela máscara.

Passava-se toda apresentação e seus olhos permaneciam vidrados, em cada movimento de todos os integrantes do circo. Porém era o palhaço e, aquele misterioso homem da cartola que muito lhe fascinara.

Era fim de apresentação, e não devia estar ali. Se alguém a encontrasse, poderia complicar as coisas. Estava como intrusa, como sempre. Invadia sorrateiramente como vento, cada brecha, cada espaço. Todavia deixava de ser vento, quando estava em questão invadir e ser dona do coração daquele palhaço. De sorriso largo e lábios vermelhos, avantajados pelas bordas que borravam mais acima.

Bem na saída se prostrara. Estava decidida de que não deixaria passar… Todas aquelas noites sentada à porta esperando a volta, de quem foi embora sem aviso prévio que deveria ir, e sem promessa fixa de que poderia voltar. Não considerava sorte, porém sabia que se não fosse a morte, que então fosse a vida a lhe motivar. Escrevendo, não para ele, mas pelo desespero de transformar em grafia, a angustia que consumia no silêncio de uma noite sem luar. Afinal os olhos ocultos daquele belo moço de smoking fajuto, não estavam lá para iluminar.

 “O mundo é uma escola, a vida é o circo” dizia Marisa Monte, e ela queria viver. Resgatando então da bela garota o pensamento insano de anteontem, em largar tudo e fugir com aqueles nômades de constante viagem. Teria consigo nada mais importante, do que uma bagagem retendo seu carrossel de porcelana, suas pinturas sujas de lama e quem sabe o amor do palhaço, os afagos, carinhos, e tão desejados sorrisos do homem de lábios fartos…

Abraçaria o mundo se pudesse, e esse era o seu maior erro. Queria acolher, ser abrigo e ter sempre num beijo tudo que era preciso para calar um coração. Porém como pudera ela saber de corações, se isso lhe faltava no momento. Mesmo que tivesse em si esse órgão, ele era frio, imóvel, sem batimentos. Amava então por vontade de ter sentimentos, ou por tornar útil o vidro inquebrável que tinha em seu peito volúpia serventia. Às vezes valia mais a intenção, do que ser amor todos os dias. E ela ainda estava atrás de quem o fizesse ser. Alguém que pudesse desfragmentar esse coração em pedaços escassos, e que não ferisse por dentro quando viesse o perder.

E então vinha o homem de smoking, com o caminho traçado até a carruagem. Sem pausas, sem tempo para as bobagens daquela garota… Tinha ele e o palhaço apenas o dever de ser o mistério e a alegria de modo falso, divididos cada um em um coração, que muito a interessava surrupiar. Pois intrigava profundamente não encontrar o palhaço por lá. Chegada hora de ir embora, nenhum deles poderiam ficar.

Entretanto ela se aproximou, tendo o carrossel em mãos, escondidos para trás de seu corpo, olhava para ele com um sorriso torto, quando então fez-se próxima a ponto de parar o caminhar alheio. Ele não levantava o rosto, permanecia imóvel com um ar que pedia em silêncio, licença para continuar. Parecia não querer falar, e ela entendia que com uma figura misteriosa e sombria não deveria se intrometer, a ponto de toca-lo. Com isso aceitou tê-lo calado, e pôs-se a dizer, o que tanto queria falar…

- Deixe-me ir com você, “O mundo é uma escola, a vida é o circo.” Decidi que por trás do meu coração de vidro, existe uma garota de sonhos contidos que muito deseja viver… Deixe-me ir com você.

Sem resposta ela olhava-o atentamente, quando tirou de suas costas a mão segurando o carrossel de porcelana. Colocou-o perante o homem, querendo mostrar a ele quanto apreço tinha por aquela vida de levar alegria mesmo sem tê-la. Expressava com aquele carrossel, que tinha o que era necessário para ser um deles. Para estar no coração dele, e para ser amada por quem amava por querer, e não por apenas sentir sem poder evitar…

Levantando um pouco o rosto, ele olhou o carrossel, e estendeu a mão em direção à ele, na intenção de pegá-lo, quando por ela foi impedido, escutando o som de um belo carrossel sendo rompido, às quatro partes daquele chão de barro batido…
Ao vê-lo levantar levemente o rosto, ela pode ter ao alcance de seus olhos, novamente parte daqueles lábios fartos e calados. Porém dessa vez eles estavam manchados, avermelhados, avantajados pelas bordas que borravam mais acima… Aquele vermelho que após o espetáculo, estava com sua cor enfraquecida, refletia nos olhos da garota como um brilho derretedor de retina. Que por dentro dela também derretia cada centímetro de vidro frio de seu coração…

(Distanciada)
“A saudade esqueceu de ir embora, acho que ela pensa que aqui é a casa dela.”
— Caio Fernando Abreu




“Só ri de cicatrizes quem nunca sentiu na própria pele uma ferida.”
— Romeu e Julieta. Página 51, II Ato.



Carta encontrada dentro do bolso de uma suicida


"O ato de “sentir” não cabe em mim. Na realidade, nada mais cabe em mim. Sou apenas mais uma pessoa abarrotada de cansaço nesse mundo. Eu disse adeus, e ninguém percebeu, como sempre. Eu sussurrei por anos e anos, que precisava de ajuda, mas ninguém foi capaz de perceber, e então resolvi dizer adeus, pobres coitados, disseram-me que eu queria apenas chamar atenção. Pergunto-me se a essa altura consegui finalmente chamar a atenção de alguém. Será mesmo? Será que para chamar a atenção de alguém eu não precisava gritar, ou chorar… Eu não precisava nem ao menos falar e sim, morrer? Lamentável. Lamentável descobrir que enquanto respirava era apenas um peso morto no mundo. Pessoas costumam dizer que a vida é bela, meus olhos nunca foram capazes de enxergar essa beleza. Meus olhos na realidade enxergaram somente a escuridão, o breu, a falta de luz. O tempo todo, o tempo todo eu só consegui ver coisas que me deixaram angustiada, triste e solitária. Mamãe, papai acreditem em mim, por favor, acreditem em mim quando digo que tentei viver. A culpa não é de vocês, nunca será de vocês, afinal entregaram-me todo o amor do mundo, algumas ausências em datas especiais, broncas sem precisão, mas nunca me negaram tudo o que eu precisava, porém eu não fui capaz de me contentar com tudo o que tive. Sei que ouviam meus soluços durante a noite, meu desinteresse pelos estudos, as marcas escuras abaixo dos olhos. Desculpem-me por não ter sido a filha perfeita, ou a garota que sonharam, desculpem-me sinceramente por não ter suportado a dor. Acho que nos últimos anos me envolvi num buraco, que pouco a pouco foi ficando mais profundo, até que então não consegui mais sair. É triste eu sei, sei que devem estar chorando a está altura, mas foi a minha decisão, vocês sempre me disseram que eu teria de crescer um dia, e crescer requer tomar decisões. Eu cresci, finalmente, eu cresci e tomei a decisão de não fazer mais parte desse mundo. Adeus; apesar de tudo eu amo vocês.”

Tatiane Nunes
“Eu estava a ponto de sentar numa daquelas calçadas tortas. Enterrar a cabeça nas mãos e chorar e chorar.”
— Caio Fernando Abreu.

domingo, 4 de março de 2012

"Esse é o espírito: ¼ de bravura e ¾ de idiotice..."
— Brom, do filme Eragon
There's a bluebird in my heart that wants to get out, but I'm too tough for him. I say, stay in there, I'm not going to let anybody see you.

— Charles Bukowski

Relato Da Minha Décima Primeira Morte

Dentre tantas vezes que morri, está noite foi a pior delas:

Meus olhos sangravam, enquanto faltava sangue em minhas veias, meus lábios rachados agora estão ficando mais secos do que antes, meus olhos castanhos sem cor brilhavam ao focarem no único ponto de luz. No meio do nada e do escuro eu morro aos poucos, com tanta coisa inútil ao meu redor. Lápis e caderno jogado comigo ao chão, gravuras fincadas na parede e meia xícara chá que de tanto tempo sobre a mesa já esfriou. Escuto o som do silêncio gritando comigo. Sobre o céu, furos cintilantes e uma lua cinza sumindo nas nuvens negras. “É tempestade. Vai ser forte, vai matar, mas, logo passa…” pensei enquanto olhava a falta de cores e sentia o vento passar levando galhos, troncos e raízes. Eu, que sempre reclamava do tempo quente e fazia birra para andar descalça, neste momento sentia o frio tomar conta do meu corpo e implorava por uma sandália, uma meia, “qualquer coisa que esquente a pontinha do pé, por favor!”. Eu que sempre zombava da carência dos poetas sentia na pele o que é ser beija-flor e perder sua flor. Ser só beija, não cabe a ninguém -agora sei. Eu que sempre julguei tolo os bailarinos que dançavam incansavelmente ao som das músicas aleatórias gastando o pouco que sobrava da sola de seus sapatos, morria sem música, sem dança, sem par nem sapatos. Eu que sempre chamei de fraco quem fugia, eu que sempre tapava a boca de quem se libertava aos gritos, eu que sempre fui tão contra ao liberto, e sempre fui tão reservada, tão seca, hoje, queria ser rio corrente. Eu que sempre reclamava do nascer do sol, hoje tudo que queria era vê-lo aparecer por trás das cortinas amareladas, brilhando na ponta da janela. “Eu morro mas o sol não nasce”. Vou morrer ao escuro, com o frio que um dia tanto quis, com a carência da qual sempre zombei, vou morrer sem saber o que é arrastar o pé no chão ao ritmo de um som qualquer, um tom qualquer. Vou morrer desejando um dia ter estado no lugar daquele que gritava, que sentia, que chorava, que corria sem medo de tropeçar, que fugia para bem longe, do que nem pensava em voltar. Vou morrer aqui, não de acidente ou assassinato. Vou morrer de dor, arrependimento, falta de amor. Vou morrer com essa tempestade. Não, não a do tempo que se forma lá fora, mas com a que eu criei aqui dentro. Essa que como eu disse antes passa levando galhos, troncos e raízes. A morte se aproximou há tempos. Tolice minha não ter notado antes o que é tão óbvio: Eu sou a morte. E de todas as vezes que morri, eu estava lá, não como vítima, mas como culpada. Sempre foi culpa minha. Como não notei isso antes? Mas, não adianta reclamar, agora só me resta dizer adeus. Preciso ir, preciso morrer, prometo voltar com os passos de tango decorados e a rosa vermelha às mãos. Amanha nos vemos, ao entardecer. Pois neste momento preciso matar. E morrer…

AlémdasRosas.
“O tempo dava-me, então, a impressão de passar cada vez mais devagar. Embora não houvesse transcorrido, desde que apagamos as luzes, muito mais do que uma hora, eu já me sentia como se a noite inteira tivesse passado, e como se em breve a luz do sol viesse de novo nos despertar e cobrir a cidade.”

— Arthur Conan Doyle, A Sociedade dos Ruivos