quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bailarina de Vidro




Numa cidade pequenininha no interior de São Paulo dormia uma jovem, que não parecia dormir em paz, talvez estivesse tendo pesadelos, ou somente não estivesse em uma de suas melhores noites, mas a jovem continuava ali, dormindo. Ela às vezes acordava assustada, e ficava ali sentada por horas e horas pensando, até pegar no sono outra vez. Eram assim as suas noites. Às vezes, em algumas noites de insônia, ela somente ficava ali em sua cama, sentada com seus pensamentos, esperando que as horas passassem...

Nunca entendi o que aquela jovem tanto pensava, acho que ela somente gostava de ficar olhando pela sua janela... Ficar sozinha com seus pensamentos poderia ser uma distração...

Lembro-me até hoje de quando aquela jovem dançou pela primeira vez. Foi há muitos anos atrás, ela e sua mãe foram à escola de Ballet procurar uma vaga para a menininha ruiva de cabelos cacheados... Toda graciosa a pequenina perguntou para a moça que trabalha ali, “Moça, posso dançar aqui?” Aquela jovem de tão encantada que ficou com a menininha conseguiu uma vaga.

Passaram-se anos e anos, e agora aquela menininha que já não era mais tão pequenina resolveu parar de dançar... Aquela graciosa pequenina cresceu, cresceu e agora resolveu tomar seu rumo na vida. A pequena voltara a ter suas terríveis noites de insônia. Fazia algum tempo que a pobre já não tinha mais algumas noites bem dormidas, que passava a maior parte acordada, pensando sobre a vida.

Sinceramente acho que a pequena bailarina, que se dizia de vidro, pois se quebrava todinha e facilmente, não gostava da vida. Sempre chorava de noite. Chorava e dizia não gostar da vida, não gostar de si mesma. Realmente a coitadinha estava infeliz.

Há alguns dias atrás estava com um frasco de analgésico. Chegou a pensar em tomá-lo, mas achou melhor guardá-lo em sua gaveta, por baixo das calcinhas. Toda noite o segurava, cogitava a possibilidade de tomá-lo, mas nunca fazia. Até que um dia, em uma de suas crises mais desesperadoras, tomou. Tomou o frasco inteirinho, sem nem pensar duas vezes... Ela adormecera instantaneamente.

A menininha ruiva de cabelinhos enrolados que dizia sempre, “O suicídio não é morrer, é viver!”, finalmente conseguiu o que sempre a atormentara em suas noites de insônia, começara a viver intensamente.

“Aqui jaz uma pequenina bailarina de vidro, que de tão frágil, se fazia em pedacinhos facilmente...” Uma bailarina que preferiu a morte.

Uma bailarina suicida.


— Amanda Dias, 15.02.12