quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Quero um zíper nas costas para poder sair de mim quando as coisas aqui dentro estiverem assim, doídas e bagunçadas, sabe?

É impressão minha ou os dias se alongaram de repente? Não chove lá fora, mas chove torrencialmente dentro de mim. Eu gosto da chuva, mas eu quero o Sol. Cadê o Sol? Eu sei, eu sei, eu vivo saindo dos trilhos e metendo os pés pelas mãos. Eu vivo me escondendo e fugindo do calor. Eu sei que sou uma bagunça e um caos ambulante. Eu sei de tudo isso. Sei também que minha cabeça chegou num ponto de estar em cronometragem para explodir. Estou em cacos, você pode ver? Quero me remontar mas, olha, está superdifícil. Superdifícil porque todos os dias eu tenho que enfrentar monstros e correr maratonas para estar dentro dos conformes e no melhor possível. Vou te dizer, não estou no meu melhor possível. Nem no meu melhor impossível, se quer saber; muito menos nesse, na verdade. Estou tendo uns dias difíceis, uns dias chatos. Eu sei, você já sabe disso. Mas você não sabe que minha vida é uma guerra medieval em que sou petulantemente obrigada a usar armadura e me defender sem ao menos saber me cuidar. Eu não sei me cuidar. Cuida de mim? Eu sou forte, mas tem hora que dói tanto. E dói mais lá para o fim da noite, quando o céu já está encrustado de estrelas. Eu gosto de estrelas. Você gosta de estrelas? Eu sei, estou perdendo o foco e saindo do assunto, mas é que estrelas são tão belas, não são? Não franza a testa de tal maneira. Preciso de encorajamento nessa hora. Preciso de um abraço forte e longo para me dar segurança. Sabe o que é? É que está doendo, e é tanta dor que eu não sei da onde mais arranjar forças para segurar a barra. Empresta seu peito? Essa dor não está cabendo só no meu. Por que dói tanto? Parece que levei uma surra. Devo ter levado, e deve ter sido da vida. Só queria sorrir. Sorrir e pôr meu coração em todos os sorrisos. Mas, invés de meu coração, coloco meu medo neles. Estou com medo, não te disse não? Medo de me perder e perder mais alguém. Eu perco tudo. Por que eu perco tudo? Ninguém fica, nada permanece. Acham que eu sou um aeroporto. Eu não quero ser um aeroporto. Eu quero ser casa, quero que morem em mim, que durmam em mim, que fiquem em mim. Por que se vão? Fica também. Estou precisando de sorrisos, de vozes, de calor. Lembra que eu te disse que fujo do calor? Não quero mais fugir dele. Por que dói tanto? Quero chorar. Chorar, sumir, desaparecer, viajar sem destino, cortar laços. Queria recomeçar do zero, mas o zero é um número tão só. Não quero mais me sentir só. Quero um zíper nas costas para poder sair de mim quando as coisas aqui dentro estiverem assim, doídas e bagunçadas, sabe? Não, você não sabe. Olha pra mim e me diz o que vê. Você não me vê, não é? Porque eu não sou essa materialização mais errada de mim. Eu não sou esse mar de alegrias que você vê todo dia passar. Eu sou dor. Meu Deus, eu sou a própria dor. Não dá pra saber como eu ainda não enlouqueci. Talvez eu tenha enlouquecido e não saiba. Talvez eu saiba. Você sabe? Sabe nada. Você nem reparou nos sintomas. Me compare com a rosa, se preferir. Ela precisa de orvalho e Sol para viver. Eu preciso da felicidade. Cadê a felicidade? Me diz. Ela tem casa? Apartamento? Mora num trailer? Eu preciso ter uma prosa com ela. Eu preciso apontar o dedo na cara dela e dizer belas verdades. Eu preciso dela. Eu preciso de mim. Eu preciso sair desse poço em que eu estou. Eu preciso escalar esse pico altíssimo para ter o sossego do bosque lá em cima. Eu sei que eu preciso ter fé e coragem, muita coragem. Eu também sei que depois dessa ponte de cordas e tábuas errantes tem um campo florido com todas as flores imagináveis me esperando. Eu sei que eu não posso parar agora, nem desistir e nem me cansar. Mas sozinha não dá. Falei isso mil vezes: sozinha não dá. Pareceu que o céu, em todas as mil vezes, sorriu pra mim. E então eu soube que não estava sozinha. Que eu não deveria ter medo de virar a esquina e nem do que poderia encontrar ao virá-la. Foi então que eu soube que a dor é grande, mas a recompensa é maior. Que demora pra passar, mas que passa, e que faria um bem danado quando passasse. Sorri pro céu. O Sol saiu. Lembra que eu disse que queria o Sol? Ele veio. Ele chegou. Estou tomando o rumo certo agora, eu acho. Eu acho não, que a vida não pode ser feita de “acho”. Eu tenho certeza que agora o certo aparece e o bom vem. Me deseje sorte.

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