quinta-feira, 20 de setembro de 2012

“Pela primeira vez na minha vida eu senti medo; não de aranha, não de barata, não do escuro. Eu senti medo de me afundar nesse buraco escuro e lodoso. Senti medo das minhas forças se esvair e eu ficar impotente. Senti medo porque, ao olhar para você, minhas pernas fraquejavam de tal maneira que chegava a ser ridículo. Senti medo de ficar louca, de perder a cabeça, de pirar. Senti medo de você, acima de tudo. Talvez você nem fosse o bicho papão que eu pensava que era; mas o que eu sentia por você, e sinto, aliás, era medonho e amedrontador. De repente, mandei todos os anti-corpos de mim à luta; eu estava com medo, não queria ser ferida, não queria que ultrapassasse a minha muralha, os meus muros, minhas barreiras. Senti medo porque, no auge de toda a minha insanidade, você chegou como um barulho bom. E é o pensamento em você que quebra o silêncio dos meus dias terrivelmente chatos. Digo, eu tenho estado tão à margem do rio, tão confusa, tão distraída, mas sempre pensei em você; sempre penso em você. Tu me vens às 18h00, às 20h00, às 02h00, em sonhos, em pensamentos ligeiros, em visões alucinógenas, em forma de cheiros, em sensação de toque, de tudo quanto é maneira tu me vens. Chega, me toma, me tens, me pede, me perde, me ganha. Daí percebo que nesse deserto de almas, talvez você seja a minha. Talvez eu te conheça à anos-luz; porque é assim que me sinto, como se nos conhecêssemos à anos, vidas passadas talvez. E é desses bocadinhos de que me completo, sem exigências, sem urgências; te tenho, e sinto que me tens. Me tem sim, de todas as formas possíveis. E me ocorre que não poderia ser de outra maneira, porque o estranho seria se eu não me apaixonasse por você. Pronto, disse! Eu amo você. Me apaixono todos os corriqueiros dias por esse mesmo sorriso malicioso no canto desses teus lábios finos e curvados. Digo, não há ninguém nesse mundo que pode ter um cílios tão longo, um queixo dessa estatura, quadrado, meio redondo; talvez tenha, mas tudo isso é seu. E eu me sinto até mais leve de poder dizer em alto e em bom som, sem negar, sem pestanejar, arquejar, questionar, que te amo, que te quero, e que gosto de você exatamente assim, do jeitinho que é, de cabelo desalinhado, suando, gritando, de mau-humor, de cara feia, de nariz arrebitado, de olhos safados. E, talvez, por ser esse gelo e fogo dentro de mim, eu te ame tanto. Droga! Eu te amo tanto. Por isso, não seja burro. Não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada. Não me deixe ir. Não me perca, e não se perca de mim. Marque o caminho, meu endereço, meu sorriso; mas não se perca de mim. Pela primeira vez na minha vida eu senti um medo descomunal, e você sorriu. Você sorriu e, consequentemente, pela primeira vez, foi como se eu fosse capaz de tudo. Por isso, não se vá. Estou em plena queda livre, e coloquei um bocado de esperança de que, lá embaixo, você me segura. Me segura? Segura sim. Aperta forte, não me deixa escapar (nem me machucar). Me nana, me nina, me balança, me envolve, fica; tem espaço na casa e no coração. Apenas não se perca de mim.”

— Snuff and Night, Anne.

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