quarta-feira, 28 de março de 2012

“Na artéria do meu silêncio, deixo morrer sem adeus, aquela palavra que livraria as andorinhas do meu coração, abrindo a porta dessa gaiola e permitindo que as asas formadas por lágrimas, consigam bater para tão, tão longe de mim. Mas permaneço como uma estátua de sal, sem mover um soluçar de canto, um recitar de amor, petrificada na incapacidade dos meus olhos de saborearem o clarão da vida. É tanto sol, tanta luz, que minha escuridão se sente ameaçada, a beira de uma batalha milenar. São raios de sol que não respeitam o meu limite negro, minha presença escura, meu cerrar de lábios para impedir a blasfêmia de declarar amores impossíveis. Eu clamo com veemência ao céu que me poupe dessa luz que transforma todas as minhas lágrimas em cinzas e faz o vento carregar, pois eu anseio por uma solidão silenciosa na escuridão dos meus abismos incontáveis, dentro de mim. Tenho me permitido ser apenas escuridão, afinal, nessa ausência de luz, esbarro com as minhas tristezas e posso tocá-las com as pontas dos meus dedos falhos, cansados de usar cores vivas em minhas mortes em obra de arte. Eu tenho escolhido a noite para contar, em minha intimidade, os batimentos sortidos de amor que meu coração ainda ousa evidenciar. Tudo se torna uma brincadeira de ciranda até o sol me achar.”

Faah Bastos

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